Entre a Floresta Negra e a América Latina: da hermenêutica à decolonialidade

Autores

  • Jungley Torres Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Palavras-chave:

Decolonialidade. Gadamer. Heidegger. Modernidade. Hermenêutica.

Resumo

Apontar-se-á no presente trabalho a crítica de Heidegger à modernidade e ao método de Descartes, visto que ao inaugurar a Filosofia Moderna, Descartes não trouxe luz ao sentido do ‘ser’, que continuou encoberto como já o fizera a tradição, em um movimento de ‘entificação’ do ser, o ôntico, em detrimento do ontológico. Neste percurso, investigar-se-á o fato de que Descartes não só omite a questão do ser como também dispensa a questão sobre o sentido do ser do cogito, pois se o “cogito, ergo sum”, isto é, o “penso, logo existo”, aponta que o “ser” do cogito pensante não precisa do mundo, decorre a questão: como pode ele, então, existir? Descartes pensa o ser humano e sua existência sem o enraizamento histórico, apoiando-se em sua certeza indubitável, que encontra no sujeito o seu próprio fundamento. A repercussão da crítica de Heidegger à modernidade e a Descartes abre pressupostos para Gadamer pensar em seu projeto hermenêutico filosófico e na concepção de que a hermenêutica não se resume apenas no resultado de um procedimento técnico ou metodológico, mas torna-se o fio condutor no tratamento da questão ontológica da compreensão, abrindo-se às perspectivas de abordagens decoloniais, mais precisamente, de pensar a modernidade além de um projeto eurocêntrico.

Biografia do Autor

Jungley Torres, Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Doutorando em Filosofia da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2021). Graduação em Filosofia pela mesma instituição (2015). Área de atuação e pesquisa: Fenomenologia, desdobramentos ontológicos, existências, hermenêutica, subjetividade e linguagem. Ligado a grupos de pesquisas: Ética, Retórica e Educação; Filosofia da Educação; Einai (fenomenologia e ontologia), grupos associados ao departamento de Educação da UFJF. É Membro do GT Filosofia Hermenêutica da ANPOF. É pesquisador do Núcleo de Estudos em Teoria da Religião, vinculado ao departamento de Ciência da Religião (UFJF)

Referências

BORGES, Cristina. A crítica descolonial em Enrique Dussel: desmitificação da modernidade europeia. Revista Poiesis, v. 15, n. 2, p. 184-195, 2017.

CORETH, Emerich. Questões fundamentais de hermenêutica. Tradução de Carlos Lopes de Matos. São Paulo: Ed. Da Universidade de São Paulo, 1973.

DUSSEL, Enrique. Ética da libertação na idade da globalização e da exclusão. Petrópolis: Vozes, 2007.

DUSSEL, Enrique. Europa, modernidade e eurocentrismo. Disponível em: http://biblioteca.clacso.edu.ar/gsdl/collect/clacso/index/assoc/D1200. Acesso em: 20.jul.2022.

DUSSEL, Enrique. O encobrimento do outro. A origem do mito a modernidade. São Paulo: Vozes, 1992.

DUTT, Carsten. En conversación con Hans-Georg Gadamer. Presentación y traducción de Teresa Rocha Barco. Madrid: Tecnos, 1998.

FANON, Franz. Os condenados da Terra. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968.

FANON, Franz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: UFBA, 2008.

FLICKINGER, H-G.; ROHDEN, L. Hermenêutica filosófica nas trilhas de HansGeorg Gadamer. Porto Alegre: Edipucrs, 2000.

GADAMER, Hans-Georg. Los caminos de Heidegger. Tradução de Ángela Ackermann Pilári. Barcelona: Herder, 2002a.

GADAMER, Hans-Georg. O problema da consciência histórica. Rio de Janeiro: FGV, 2006.

GADAMER, Hans-Georg. Verdade e Método. Tradução de Flávio Paulo Meurer. Petrópolis: Editora Vozes, 2002b.

GADAMER, Hans-Georg. Verdade y Método. Tradução de Ana Agud Aparício y Rafael de Agapito. Salamanca: Sígueme, 1984.

GRONDIN, Jean. Hans-Georg Gadamer. Una biografía. Tradução de Angela Ackermann Pilári, Roberto Bernet e Eva Martín Mora. Barcelona: Herder, 2001.

HEIDEGGER, Martin. Meu caminho para a Fenomenologia e O Que é metafísica? Tradução de Ernildo Stein. São Paulo: Victor Civita, 1973. (Coleção Os Pensadores).

HEIDEGGER, Martin. O tempo da imagem do mundo. In: Caminhos de floresta. Lisboa: Calouste Gulbenkain, 1998. p.120-138.

HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Tradução de Fausto Castilho. Petrópolis: Vozes, 2012.

LAWN, Chris. Compreender Gadamer. Tradução de Hélio Magri Filho. Petrópolis: Vozes, 2007.

MIGNOLO, Walter. A Geopolítica do Conhecimento e a Diferença Colonial. Revista Lusófona de Educação, Lisboa, v. 48, n. 48, p. 187-224, 2020.

MIGNOLO, Walter; WALSH, Catherine. On Decoloniality: Concepts, Analytics, Praxis. Durham/London: Duke University Press, 2018.

PALMER, Richard E. Hermenêutica. Tradução de Maria Luísa Ribeiro Ferreira. Lisboa: Edições 70, 1969.

QUIJANO, A. A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005.

ROHDEN, Luiz. Hermenêutica filosófica. São Leopoldo: UNISINOS, 2003.

ROHDEN, Luiz. Hermenêutica filosófica: entre Heidegger e Gadamer. Natureza Humana, São Paulo, v. 14, p. 14-36, 2012.

SILVA, P. I. F. Heidegger: técnica e imagem de mundo. Primeiros Escritos, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 225-235, 2009.

STEIN, Ernildo. Aproximações sobre hermenêutica. 2ª ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004.

Downloads

Publicado

2023-07-01

Como Citar

TORRES, J. Entre a Floresta Negra e a América Latina: da hermenêutica à decolonialidade. Kairós, Fortaleza, v. 19, n. 1, p. 146–161, 2023. Disponível em: https://ojs.catolicadefortaleza.edu.br/index.php/kairos/article/view/449. Acesso em: 5 maio. 2024.

Edição

Seção

Artigos